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FUGINDO DOS “ISMOS” DA VIDA

foto copa

Durante o período de Copas do Mundo, um fenômeno sempre acontece comigo: sou chamado de apatriota. No início, na copa de 2002, isso até que me incomodava bastante. Hoje, três copas depois, já não me afeta tanto e por isso me sinto à vontade para escrever sobre o assunto.

Primeiramente, acho interessante listar alguns aspectos antes de prosseguir com o texto:

  • Para mim, a seleção brasileira não representa o meu país e justamente por isso não carrega sua bandeira no uniforme, mas, o escudo da Confederação Brasileira de Futebol – CBF. E esta, está longe de me representar…
  • Vejo futebol apenas como entretenimento e sinto certa pena de quem o encara diferente disso.
  • Não misturo futebol com política.

Sendo assim, vamos lá. Como alguém que delira, chora, grita, toca cornetas e faz outras loucuras por um time que leva o escudo da CBF, pode questionar a situação política do país? Essa instituição não é corrupta? O que ela tem feito de bom para o país?

Até onde eu sei, o futebol nacional sobrevive por ajuda de equipamentos em uma UTI. O principal campeonato não consegue atrair público nos estádios. Grandes times comemoram a contratação de jogadores decadentes que não servem mais para o futebol europeu. Bom, não sou um especialista no assunto, porém, acredito que a Confederação não está exercendo bem o seu papel. 

Mas, não é por causa da CBF que não torço para a seleção brasileira. Torço para outras seleções pela diversão do esporte, do entretenimento. A graça é termos vencedores e perdedores. Mas, se todo mundo estiver do mesmo lado, quem vai rir de quem? Eu gosto de ser o “do contra”. Sempre gostei.

Usar a minha torcida como protesto contra fatos que não estão relacionados diretamente ao futebol seria de uma ingenuidade comparada à das pessoas que xingam políticos sem ao menos conhecerem a história por trás da pessoa que ocupa aquele cargo.

Sair por aí falando que sente nojo de política, sem perceber que você é parte dela, não faz sentido nenhum. E justamente por ter essa consciência, sei que para cumprir o meu papel cívico, a coisa mais insignificante que posso fazer seria vestir uma camiseta amarela, saindo por aí cantando que sou brasileiro com muito orgulho e muito amor…

Se patriotismo significasse idolatrar tudo que tem a palavra “brasileira” no nome, seria controverso um patriota declarar algo do tipo: “eu gosto mais de música internacional do que de MPB”. Seria necessário explicar que o “B” das duas siglas (CBF e MPB) tem o mesmo significado?

Hoje, depois de superar parte das ofensas desse povo que ama sua pátria a cada quadriênio, percebo que de fato não sou patriota.

E não tenho vergonha nenhuma em assumir isso. Patriotismo, assim como tantos outros “ismos” nos cegam e limitam nossos pensamentos. Então prefiro manter distância de determinados cabrestos sociais e culturais.

Entretanto, uma coisa é certa, eu – reclamando e escrevendo – faço mais por este país do que muita gente que estufa o peito para cantar o hino durante uma partida de futebol.

Além disso, grande parte dessas pessoas que acreditam na tal pátria de chuteiras, também pensa que o cinema nacional é composto apenas por pornochanchadas e filmes sobre favela. Acredita que a literatura brasileira se resume a Paulo Coelho, Augusto Cury, Silas Malafaia e mais um tal de Machado de Assis.

Não… não sou um patriota. Sou um implicante. Mas, um implicante consciente. Longe do fanatismo patriótico ou de ser moldado pelo complexo de cachorro vira-lata que influencia muita gente por aqui. Consigo distinguir o que é bom e ruim produzido em solo nacional. Acompanho política, posso listar os pontos positivos de cada governo e os seus casos de corrupção.

Como também identifico o que é bom, mas que foi feito lá fora das terras tupiniquins. Livros, músicas, comidas e, por que não, futebol? Também acompanho a políticas internacionais e, ao contrário do que muitos imaginam, não são tão diferentes do que é feito por aqui. Pasmem: política é política em qualquer lugar do mundo e a corrupção não é uma patente brasileira.

Pare de chatice. Deixe o modismo de lado. Passe a pensar por conta própria ao invés de seguir o que lhe apontaram como o caminho certo. A vida não é uma receita de bolo, onde você precisa obedecer e seguir o passo-a-passo. Não existem regras para felicidade. Então, pare de tentar aprender com os outros como se faz para ser feliz.

Torça para quem ou para o que quiser torcer. Mas, afaste-se do conceito de certo ou errado. Assim deve ser no futebol, na política ou em qualquer outro assunto. Respeite as opiniões diferentes. Afinal, como já dizia um outro escritor brasileiro que ainda não foi citado no texto: “Toda unanimidade é burra”.

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